A Igreja Católica está enfrentando mais do que as consequências dos
escândalos de abuso sexual na Europa e América do Norte. Sua autoridade também
vem sendo questionada mais frequentemente em bairros e condomínios do mundo em
desenvolvimento. Congregações em lugares como a América
Latina, África e Filipinas já representam a maioria do universo global de 1,2
bilhão de católicos. Frequentemente, eles são vistos como uma base de apoio
para a instituição à medida que a influência da Igreja na Europa e em outros
lugares continua a diminuir. Mas as economias costumadas a serem chamadas de
Terceiro Mundo cresceram rapidamente e milhões de pessoas migraram para grandes
cidades como São Paulo e os católicos estão começando a buscar
respostas mais imediatas para seus problemas do dia-a-dia.
Em áreas tradicionalmente dominadas por católicos, grupos protestantes evangélicos
tiveram um aumento explosivo na sua popularidade à medida que os católicos
migraram para uma fé que veem como mais sintonizada com a vida moderna num
mundo em rápida transformação. No Brasil, onde os evangélicos já representam
mais de um quinto da população (cerca de 42 milhões de fieis), em comparação
com menos de 4% quatro décadas atrás, líderes como o bispo Edir Macedo usam
suas próprias redes de televisão e a Internet para pregar fórmulas de sucesso
enquanto o país cresce rapidamente.
Em áreas cristãs da África, evangélicos também estão ganhando terreno e já
representam mais de 10% da população de todo o continente. Em outros lugares,
como Filipinas, governos estão estabelecendo a agenda pela primeira vez em
décadas, ecoando a secularização que primeiro deixou a Europa rumo à América do
Norte e que também está tomando o caminho da América Latina.
As mudanças em curso nas Filipinas - onde nasceu o cardeal Luis Antonio Tagle,
arcebispo de Manila, de 55 anos e apontado como forte candidato à sucessão de
Bento XVI antes do conclave que elegeu o papa Francisco - são algumas das mais
profundas no mundo católico. As Filipinas são um dos países predominantemente
católicos mais conservadores. O divórcio ainda não foi legalizado e alguns
penitentes ainda hoje se crucificam a cada Páscoa numa representação da
crucificação de Jesus Cristo.
Ainda assim, a Igreja enfrentou uma derrota significativa no país quando o
presidente Benigno Aquino III sancionou, em dezembro passado, a lei que prevê
disponibilidade mais ampla de contraceptivos e educação sexual num esforço para
diminuir uma das taxas de nascimento mais elevadas da Ásia.
Economistas e muitos líderes políticos afirmam que o rápido crescimento da
população, especialmente entre os filipinos mais pobres, é uma grande
contribuição para a pobreza que ainda afeta muitas partes do país a despeito da
recente melhora no crescimento econômico das Filipinas. Pesquisas de opinião
mostram que muitos filipinos - mais de 70% da população - concordam.
Líderes locais da Igreja fizeram intensa campanha contra a nova lei, a ponto de
ameaçarem de excomunhão o presidente Aquino, um católico praticante, se ele
sancionasse o projeto. Parlamentares conservadores também fizeram discursos
apaixonados contra o projeto. A Igreja ainda está lutando para entrar com uma
ação contrária e a escolha de outro papa conservador para suceder João Paulo II
e Bento XVI poderá dar algum ímpeto novo a essa resposta.
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